Simplesmente…MARIA! Nos já longínquos anos 50/60 do século XX, o início deste texto, era também o título de um fantástico folhetim/novela radiofónico que, na época, eu ouvia com alguma regularidade – quase por “obrigação” – pela circunstância de ser transmitido num horário que, para mim, apesar de não ser muito acessível, era com certeza o mais indicado para, nessas saudosas décadas, as chamadas: “Donas de Casa”. Por ser homem, parece ser paradoxal, o facto de ter começado a gostar do que ouvia, quiçá pelo fascínio que era incutido no meu espírito, inspirado na suavidade do próprio nome – MARIA – e de toda a história construída à sua volta.
Iniciei este escrito escrevendo algumas linhas dedicadas a uma terna e eterna recordação e também o merecido tributo todas as mulheres que têm como primeiro nome: MARIA. Faço-o, sem qualquer tipo de complexo e com a simplicidade própria das coisas simples – passe o pleonasmo – na esperança de continuar a ser a pessoa que sou e respeitando todos os meus gostos e todas as minhas preferências. A referência a MARIA, como o nome da minha preferência, tomando em devida conta o respeito pela panóplia (também aprendi a usar este “palavrão”!) de outros nomes que por aí proliferam, faz-me recordar a história, que nunca mais acabava, daquilo que acima referi – a novela radiofónica -, a qual define na perfeição e com toda a convicção o verdadeiro significado daquilo que deve ser uma mulher. Refiro-me a uma MULHER e não a uma… fêmea! Para mim, MARIA é sinónimo de Honra e Dignidade. Também poderá e deverá ser, o verdadeiro símbolo de tudo quanto dignifique a MULHER: companheira, esposa fiel, mãe carinhosa, avó “babada”, honesta, trabalhadora, responsável e principalmente, boa conselheira. Tenho a felicidade e a alegria de ter uma neta (a mais nova) com esse nome e, por isso mesmo, já vislumbro no horizonte da sua vida, a certeza de vir a obter todos esses atributos. Apesar dos seus mimosos 6 aninhos, a sua forte personalidade faz transparecerem alguns desses predicados. Todo este arrazoado em palavras escritas, vem a propósito de uma peça de Teatro Musicado (opereta) que ontem (19 de Outubro de 2012), tive o prazer de assistir: ”M A R I A”.
Nasci 3 anos após o Dr. JOSÉ SÁ ter escrito esta peça de teatro (1937). Nunca tive oportunidade de assistir à sua representação teatral em palco – mesmo aqui na minha Terra -, onde ocorreu a primeira aparição em palco exemplarmente representada pelos alunos “pobres” – os “ricos”… iam para o liceu – da Escola Industrial e Comercial da Póvoa de Varzim (Rocha Peixoto), cujo Director e também Professor, foi o Autor do texto. Tive a honra e a felicidade de ter sido seu aluno e dele ter recebido ensinamentos, que ainda hoje perduram, e muito úteis me foram no decorrer da minha já longa vida de septuagenário. A Póvoa, ainda hoje o respeita e venera, como um dos seus filhos mais ilustres.
Graças ao António Pereira, o Presidente do G.R.E. “AS TRICANAS POVEIRAS”, tive a oportunidade de assistir – em palco – à sua representação (tal como a maioria, também paguei o meu ingresso, porque o GRUPO não vive de “ar e vento”!). Foi no Auditório Municipal, gentilmente cedido para o efeito, pela nossa principal Autarquia, representada no evento pelos seus Vice-Presidente, Aires Pereira, Vereador da Cultura, Luís Diamantino e Vereadora da Acção Social, Ândrea Silva. Tal como o “desabafo” com que iniciei este pequeno texto, porventura servindo como sinónimo a uma manifestação de sentimentos consubstanciada numa maneira de SER PESSOAL, em que a simplicidade e a honestidade, tal como em MARIA, deveriam estar presentes em todos os corações e também em todas as “cabeças” (as aspas, significam: mentalidade). A aldeia onde decorre a acção, segundo o guião do espectáculo, é um lugar paradisíaco algures no Alto Minho do nosso Portugal, onde tudo é simples como o verde da sua paisagem, e a pureza das suas águas cristalinas contrastam com as agruras e o sofrimento de um povo laborioso, que tudo consegue vencer quando RI, CANTA e DANÇA fazendo esquecer as agruras da vida e, com isso, conseguir obter aquilo, que muita falta faz ao mundo de hoje: PAZ e FELICIDADE.Das diversas personagens que fazem parte da história, com toda a naturalidade vou destacar duas: Ele, o JOSÉ (André Vicente Pereira) – rico, filho de gente abastada e dona de uma bela vivenda, “menino bem” e doutor – Ela, a MARIA (Ciliana Oliveira Pinheira) – órfã, pobre e de coração bondoso que, por caridade, foi recolhida e acolhida pelos pais de JOSÉ. Ambos, são criados como irmãos, até ao dia em que descobrem que a amizade criada entre eles, cedeu o lugar ao… AMÔR. A tal paixão – cândida e pura – que, enquanto crianças, julgavam ser uma amizade sincera, para na adolescência descobrirem, que afinal, era muito mais do que isso.Descoberta a paixão entre estes dois jovens, o Luís (Dulcídio Pinheiro Marques), Pai de JOSÉ – duro, feitio difícil e orgulhoso, mas…bom homem – com grandes planos para o futuro do seu filho JOSÉ (ser médico), não iria permitir essa relação. Nunca irá permitir o casamento do seu filho – doutor – com aquela – pobre – que foi recolhida por caridade em sua casa. A Mãe Joaquina (Maria Antonieta Pereira), terna e delicada, pouco mais podia fazer do que implorar ao seu “quero, posso e mando”, o mesmo que dizer, ao seu marido, a necessária benevolência em prol daquele AMÔR sincero que, dia a dia, se manifestava naqueles jovens corações. Como resposta, o Pai tirano, ao “apanhá-los” num terno e profundo beijo, expulsou-a imediatamente do seu lar. Valeu-lhe a presença do respeitado e conciliador ABADE (Francisco António Nova), que a recolheu e a acolheu em sua casa como sua hóspede. Neste imbróglio, houve outros intervenientes sempre com bom senso e em favor da concórdia, como foram os casos do inconformado e contestatário PROFESSOR – lá da aldeia – (Eurico José Dias Ferreira), mas sempre interessado por todos; o MÉDICO (António Carvalho Costa) rezingão, agreste e sempre amigo de toda a gente; o REGEDOR (Manuel José Reina) vindo dos “brasis”, rústico e atento ao bem comum. Quando JOSÉ (André Pereira) regressou à sua Terra e à sua casa, já com o estatuto de DOUTOR e após muitos anos de estudos e de tormentos universitários, foi alvo de uma festa (caseira) promovida e organizada pelos seus Pais, para a qual, foram convidadas as forças vivas lá da Terra. Sim! Nesse tempo, eram necessários muitos anos de árduos estudos e de muito sacrifício de pais e alunos, principalmente dos que não nasceram num “berço de ouro”. Nos tempos da actualidade, que correm a uma velocidade demolidora, até os burros (sem aspas) – salvo raríssimas excepções -, mesmo sem vontade para estudar, querem ser doutores e, principalmente, serem tratados como tal. É evidente, que é necessário possuir dotes especiais, para que estes (as) “chicos espertos (as)” consigam tal desiderato: “lata” e falta de vergonha. Para que tudo isto seja possível, tem de haver a “conivência” dos estabelecimentos de ensino superior que, por isso mesmo, também têm culpa no “cartório”. Dentro deste contexto, cá para mim, continuo a pensar e a agir como sempre: prefiro lidar ou dialogar com um analfabeto SÁBIO do que… um doutor IGNORANTE.“Sem” querer, estava a fugir do assunto que aqui me trouxe. Dando continuidade ao relato da festa em honra do JOSÉ, deverei dizer que, dos convidados, apenas o solidário ABADE, apresentou condições para aceitar tão honroso convite: levar consigo a sua hóspede. Aceite a exigência do eclesiástico, o “bom-serás”, levou consigo a sua hóspede, que era… nem mais nem menos, do que a sua protegida MARIA. O reencontro dos jovens, foi de tal maneira apaixonado, que, o “milagre” aconteceu! O Pai, de braços abertos, abraçou a sua filha adoptiva, abandonando – a partir daí – todos os preconceitos e complexos de superioridade e abraçar também… o AMÔR.
Esforcei-me por tentar resumir esta história – escrita há 75 anos – apresentada ao público em forma de OPERETA (3 actos), no Auditório Municipal da Póvoa de Varzim (19-20/10/2012), em cujo palco (lindamente preparado para o efeito), se apresentaram, mais de 5 dezenas de actores (a grande maioria, é pertença do Grupo “As Tricanas Poveiras) que, apesar do seu total amadorismo, cumpriram na íntegra tudo o que lhes foi transmitido pelo seu director artístico e ensaiador DULCÍDIO MARQUES, durante quase um ano de intensos ensaios.
Conforme a minha afirmação no início desta amálgama de palavras, nunca antes tinha assistido à representação teatral desta peça. Nem tão pouco – por estranho que pareça – , conhecia o seu conteúdo. Portanto, não tenho pontos de referência, para fazer qualquer tipo de comparação com o texto original ou com representações anteriormente exibidas, encenadas e orientadas, pelo meu querido amigo José de Azevedo. De uma “coisa” eu sei: gostei do espectáculo. Conhecendo tão bem – como conheço – a veia artística da maioria dos actores, fiquei com a firme certeza de terem dado o seu melhor (muitos deles apresentaram-se nos ensaios, apenas com uma “bucha “ no estômago – após um árduo dia de trabalho – não só pelo gosto que nutrem pelo teatro e a sua Instituição, como também pelo grande respeito que o público lhes merece. Na minha modesta opinião, achei por bem incluírem no espectáculo algumas danças imbuídas em músicas (escritas propositadamente para a peça) da autoria do Prof. DOMINGOS PINHO e executadas por uma pequena orquestra (violoncelo, contra-baixo, saxofone, oboé, clarinete e violino (2), magistralmente dirigida pelo Prof. JORGE SANTOS SILVA (piano). Também assisti, com bastante agrado, a diversas interpretações de coros constituídos por magníficas vozes, principalmente as femininas. Sem menosprezar as restantes, gostaria de destacar duas: as de CILIANA (Maria), para mim uma desconhecida que se revelou uma autêntica surpresa – um nome para não esquecer – e ARMINDA NOVO (Gente do Povo), já minha conhecida – como cantora na missa das 9 horas na Capela de S. Santiago – que, tal como a anterior, é possuidora de uma voz estupenda.
Já que tomei a liberdade de expressar gostos pessoais, permitam-me os eventuais leitores deste simples escrito, destacar a dupla que mais me agradou e entusiasmou: GUIDA (Maria José Carvalho) e o SOLDADO JOAQUIM (Mário Augusto Ferreira).
Em jeito de conclusão, a minha consciência obriga-me a fazer algumas referências àquilo que poderá ser pormenor…mas, no meu entender, não é: aos cenários, escolhidos a preceito para cada um dos actos, dando a nítida sensação de as cenas se passarem nos próprios locais; uma saudação muito especial para o PONTO (deveria escrever no feminino e no plural), constituído por FILIPA CAMPOS COSTA e EMANUELA PONTES; o apreço muito sentido para o CONTRA-REGRA (deveria ser também no plural) formado por ARMINDO RENATO PEREIRA e ALFREDO ABEL OLIVEIRA.
Esta realização teve o apoio indispensável da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia da Póvoa de Varzim.
Parabéns ao Grupo Recreativo e Etnográfico “AS TRICANAS POVEIRAS”, na pessoa do seu Presidente, ANTÓNIO PEREIRA, pela disponibilidade demonstrada na reposição desta peça de TEATRO – só dignifica a nossa Terra – que, sem qualquer dúvida, passou a ser um HINO à CULTURA da Póvoa de Varzim. Bem-Haja!
Jorge Silva
P.S. – Este “emaranhado” de palavras foi redigido, obedecendo e respeitando as regras que os meus velhos professores me transmitiram. É a única ortografia que me interessa conhecer, seja ou não, o tão badalado (RTP1): ” BOM PORTUGUÊS”.
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